domingo, 25 de agosto de 2013

UMA TIA NA COZINHA








Ainda me lembro exatamente da primeira vez em que fui chamada de tia. Estava no banheiro do shopping Iguatemi, em Fortaleza, cidade onde morei por quase vinte anos e na mão, segurava um belo batom vermelho, meu preferido. Eu devia ter aí uns vinte e seis a vinte e sete anos, não mais do que isso. Ao meu lado, uma adolescente sapeca me viu e disparou: "Tia, me empresta o batom?"

Confesso que na hora, tive uma sensação de estranheza. Percebi que estava começando a me tornar uma senhora e o sentimento de que talvez não desse mais tempo de mudar o mundo, como eu tanto queria, ficou mais forte. Entreguei o batom com um sorriso, não sem antes dar uma olhadinha para o espelho, procurando por rugas ainda inexistentes. Dei-me conta, naquele momento e por isso gravei a cena por completo, de que a vida é muito, muito breve.

Por isso não me arrependo de ter lutado muito pela democracia e pela liberdade e ainda hoje, arregaçar as mangas sempre que for preciso na defesa dessas mesmas bandeiras, por um mundo mais justo e sustentável. Nesta semana, recebemos a visita no estado do ex-presidente Lula, nosso eterno amigo. Ele veio para inaugurar a primeira fase de um complexo de psicultura que alimentará milhares de pessoas no Acre e fora dele. Será a fábrica de pescados mais moderna do país e as sugestões dadas por ele ao nosso governador Tião Viana para fomentar essa atividade no Acre fez com que ele viesse cortar a fita inaugural. Nada mais justo.

Ver o Lula aqui mais uma vez, das tantas visitas feitas por ele ao nosso Estado, ver o carinho de um dos presentes ao ato, um trabalhador rural agradecendo por hoje ter uma faculdade e uma pós-graduação, coisa impensável há uns anos atrás me dá a certeza de que os anos passados não foram em vão, nem para mim nem para uma multidão de sonhadores que acreditaram que era sim possível, ter inclusão social de fato. Os números estão aí para mostrar.

Isso tudo para dizer que após essa atividade no complexo de piscicultura, cheguei em casa cansada e não cumpri algumas ações que havia me proposto a fazer, entre as quais um bolo para o lanche das crias. De noite, meu filho mais velho chegou do trabalho com um grupo de amigos, para deixar o carro e ir tomar uma cervejinha. Álcool zero, é claro. Mas aí, antes da balada, vem a comida ou o lanche, que não tinha.

Corri para fazer um café e umas tapiocas e ri muito quando um deles perguntou: "Tia, a senhora pode me adotar?". O outro amigo saiu-se com uma "Tia, se eu pedir uma tapioca para a minha mãe, ela me bate!" Falei para ele, "Minha ídola! Aqui em casa fico oferecendo comida direto!" Bom, mas as tapiocas eram poucas e lembrei de fazer bodó (ou bolinho de chuva em outras terras). O bodó é nossa merenda da tarde mais típica, polvilhado de açúcar com canela e comido com café ou café com leite.

Meu bodó faço com suco de laranja ao invés de leite, o que provocou suspiros dos meninos. Essa troca me foi sugerida por dona Franca, uma querida amiga já falecida, trabalhadora do interior do Ceará, que criou muitos filhos e netos com o que havia à mão. Usei açúcar de confeiteiro ao invés do açúcar normal para polvilhar os bodós, o que diminuiu um pouco a doçura. Os rapazes comeram tudo e de barriguinha cheia, foram tomar uma cerveja, porque ninguém é de ferro. Então, para os filhos e sobrinhos adotados ou não, experimente fazer esses bolinhos no fim de tarde, é impossível comer um só! Bom apetite!

Bodó do meu jeito (ou bolinhos de chuva) 

Ingredientes

01 xícara de farinha de trigo
1/2 xícara de açúcar refinado
Suco de 03 laranjas (pode não ser preciso usar tudo)
01 colher de chá de fermento químico
01 pitada de sal
01 ovo
Açúcar de confeiteiro para passar os bodós ou uma mistura de açúcar com canela
Óleo para fritura

Modo de Fazer

Numa tigela, coloque a farinha, o fermento, a pitada de sal e o açúcar. Acrescente o ovo e o suco de laranja, mexendo até ficar uniforme. Numa panelinha ou fritadeira, coloque óleo suficiente para a fritura (aproximadamente três a quatro dedos do recipiente)  e deixe esquentar. Com uma colher, despeje com cuidado o equivalente a uma colher de sopa (aproximadamente) e vá banhando no óleo, para que frite rápido, sem queimar. Observe para que o óleo não fique quente demais e os bodós fiquem crus por dentro. Frite três a quatro por vez e retire-os com cuidado, colocando-os em um prato forrado com papel absorvente. Passe-os no açúcar ou na mistura de açúcar com canela e sirva-os ainda quentes com chá, café ou chocolate. Fica uma delícia!

Nenhum comentário:

Postar um comentário