domingo, 11 de agosto de 2013

CAFÉ DA MANHÃ ESPECIAL PARA MEU PAI

Meu pai, desde cedo com a mesa arrumada...

Mesa improvisada, para dar conta das comidinhas

Atividade frenética na cozinha, cada um numa panela...

Fazendo as tapiocas para a sobrinha colocar manteiga e enrolar, produção coletiva...

Geléia de morango feita em casa...

Meu irmão arrumando o cuscuz, este feito com leite de coco...

Minha sobrinha cortando a pimentinha para temperar a carne moída...



Olha a linda sobrinha esperando o leite ferver e meu filho mais velho ajudando na tapioca...



Hoje o dia começou muito cedo e ainda não acabou. Explico: às 5:30h da manhã meu despertador toca. Preciso tomar um remédio em jejum absoluto e engoli-lo a seco. Abro os olhos, pois, tonteio no escuro em busca do comprimido, ainda bem que minúsculo e fecho de novo os olhos. Às vezes durmo, outras não. Às seis da matina o despertador toca de novo. Desta vez, tenho que colocar o bloco na rua e levantar de verdade, o que faço quase sempre com muita preguiça.

Como sempre, ao ouvir o barulhinho do relógio, tateei o remédio mas o danado caiu no chão. Ao levantar para pegá-lo, lembrei do filho mais velho que havia saído para a cervejinha da sexta e fui conferir se o bruguelo já estava em casa são e salvo.  Filho conferido, encontro na sala o bilhete do mais novo: "Mãe, vou ali e volto logo". Mas que logo é esse, penso eu? Claro, vou no quarto dele confirmar se o logo não demorou e se ele está inteiro e ressonando.

Eu sei, podem rir, mas desde que me dou por mãe não tenho mais vida própria. Os meninos nem são mais meninos há um bom tempo. Um deles já namora firme e o outro está prestes a fazer dezoito e segundo ele, fazer o que quiser. Escuto calada e paciente os arroubos desse pequeno mais alto do que eu com um misto de ternura e riso: mal sabe ele que agora é que a porca começa a torcer o rabo, mas deixo que ele descubra sozinho.

Tudo isso para dizer que perdi o sono do sábado e resolvi me jogar no mercado, um prazer renovador. Já estou na fase de ter feirantes amigos com quem puxo histórias e já me dou ao luxo de comprar peixe apenas na banca do Rui e da Socorro. A goma, branquinha feito a neve que eu nunca vi de perto, só na banca da esquina. O porco tem que vir do seu João, que me enrola toda vez. "Seu João, essa carne é dura?" pergunto dele, para ouvir numa risada: "Duro é osso, minha filha, essa carne é mole, mole." Mas seu João, insisto, o senhor me deu pernil dianteiro, não é? Não é mais duro?" Ao que ele dá outra risada e confirma o logro, "'É minha filha, mas amolece".

Já encomendei o pé de manjericão novo da Vanuza, que no próximo sábado terei que buscar. E vim carregada de ovo caipira, não sem antes recomendar ao vendedor: "Me dê ovo caipira de verdade, se a gema não for amarelinha, o senhor vai se ver comigo". E lá vai o homem jurar de pé junto que ali só caipira legítima. Saio rindo com o pacote na mão. Antes que vocês pensem que nossos feirantes são desonestos, aviso que tudo é farra, matreirice das boas, para ter prazer de rir, regatear, ganhar um maço de maxixe verdinho de presente e ficar mais feliz.

Digo para a vendedora: "A senhora colocou um maço de maxixe a mais". "É que ele estava aqui sozinho, tem problema não". E para que os vizinhos não se separem nem na panela, saio carregando três ao invés de dois maços de pequenos maxixes que irão ser cozidos junto com o feijão verde acabado de debulhar. Até nabo de uma descendente da colônia japonesa comprei hoje. É que não tinha visto pelo mercado ainda, plantado aqui mesmo.

Vim carregada de pimentinhas e chicórias e folhas de couve para o charuto do almoço. Hoje foi a Ivone, minha fiel escudeira, quem fez o prato. Uma delícia! Aproveitei e comprei peixe para o meu pai, além de maxixe peruano. Um surubim fresquinho, cortado em postas, pronto para o cozido que ele tanto ama. Acho que puxei do meu pai esse jeito de gostar de conversar com todo mundo. Ele, onde chega, se espalha. Daí a pouco já está às gargalhadas, rindo de alguma história, com algum conhecido que acabou de encontrar. E hoje, antes das oito, quando cheguei na casa dele debaixo de uma chuva grossa e promessa de frio nesse Hades tupiniquim, já o encontrei no mercantil do outro lado da rua.

Ele tem algumas sequelas motoras do AVC de alguns anos atrás, mas isso não alterou sua risada nem sua alegria de viver. Pegou carona com um colega e veio abrir a porta. "Minha filha, o pão aqui acabou. Vamos ali na outra padaria?" "Claro, pai, vamos lá" e vamos juntos comprar o pão do dia. Cresci com ele nos acordando de madrugada com pão manual fervendo, ou pão de milho com castanha ou mingau na lata de leite em pó. Às vezes, era saltenha, tão quente que precisava comer assoprando, mas como era bom. Puxei do meu pai o gosto pela boa comida, por cozinhar, pela comida quente e fresca, pelos mercados. Da minha mãe, para que não fique enciumada, vem o amor pelas plantas, pelos doces, pelas roupas de cama e mesa.

E amanhã, ou melhor, daqui a pouco, pois agora já é domingo, estaremos reunidos no café para meu querido pai, para festejar junto com meus irmãos e marido, filhos e cunhadas, sobrinhos e sobrinhas, além da minha querida mãe e nos alegraremos por todos os pais, incluindo os pais de coração, que tanto amor e generosidade colocam no mundo, como meu querido companheiro, a quem agradeço. E para que a lista se complete, muitas alegrias para o pai dos meus filhos e também para seu pai, avô deles.

O café da manhã de hoje foi construído coletivamente, ao melhor estilo da família italiana que não somos, pois as descendências são de portugueses e cearenses. Um varreu a casa, o outro preparou a carne para comer com a macaxeira, uma cunhada fritou os ovos, fizemos tapioca e cuscuz que o meu irmão arrumou e quem não cozinha ajeitou a mesa, levou pratos ou simplesmente ficou vendo a banda passar, para ajudar depois na limpeza geral. Como falam dez de cada vez e todos contam histórias ao mesmo tempo, nos entendemos perfeitamente. O café se estendeu quase pelo almoço e mesmo assim não demos conta de acabar tudo, mas chegamos perto.Que venha o próximo!

Geléia de morango caseira
(sou apaixonada por geléia de morango e nesta época, eles chegam por aqui bonitos, vindos de Minas e é o que basta para jogá-los na panela)

03 caixinhas de morangos bem lavados, retirados os cabinhos
Açúcar refinado quanto baste
Suco da metade de um limão Tahiti

Numa panela de fundo grosso, coloque os morangos, mais ou menos 01 xícara de açúcar e o suco de limão. Deixe em fogo baixo, com cuidado para não derramar, mexendo de vez em quando. Amasse levemente alguns morangos com o garfo, com cuidado para não se queimar. Retire a espuma que vai se formando e deixe secar um pouco. Prove para ver se precisa de mais um pouco de açúcar, que deverá ser acrescentado aos poucos, para que não se perca o ponto. Tenha perto um pires e coloque um pouquinho da geléia de vez em quando, para testar o ponto, que deve ficar meio pastoso. Desligue e coloque ainda quente em um pote próprio para geléia. Coma com pão ou no bolo ou até na tapioca, como minha cunhada degustou de manhã. Bom apetite!
  
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Hades: inferno grego, analogia com o calor às vezes insustentável que temos por aqui.
Saltenha: espécie de salgado, muito comum na Bolívia e no Acre, que pode ser assado ou frito, mais usual por aqui, onde o recheio mais comum é de frango com batatas.     


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