quarta-feira, 3 de outubro de 2012

SABOR DE INFÂNCIA



A "raspadilha" de groselha, a mais pedida




A máquina manual de raspar o gelo, estacionada na Calçada Literária da Bienal


Às vezes a vida anda mais depressa do que a gente desejaria. Na semana que passou, estávamos em meio à organização da II Bienal da Floresta, do Livro e da Leitura, um evento promovido pelo Governo do Estado, através da FEM - Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour, coordenado pelo Instituto do Livro e da Leitura. Um esforço grande com lindos resultados, de trazer crianças e o público em geral para os livros, as oficinas, a contação de estórias, os quadrinhos, a música e tanta coisa boa que aconteceu nesses dias.

O espaço físico, na beira do rio, trouxe belezas a mais. Foi lindo ver uma turma de estudantes de uma escola municipal parar o passeio para acompanhar os volteios enamorados de botos cor-de-rosa, se exibindo como nunca. Fiquei tão encantada que nem mesmo sabia quem gritava mais, se eu ou as crianças. Não consegui tirar  fotos dos botos, mas as crianças estão aí...




As crianças, encantadas com os botos cor-de-rosa no rio Acre...


Apesar do calor, não faltaram vendedores de picolé e sorvetes, que mal davam conta de atender à multidão de crianças e adultos interessados em se refrescar um pouquinho. Mal contive a alegria quando vi um vendedor de raspadilha. Explico: aqui no Acre, o gelo raspado em que se acrescenta um xarope, chama-se raspadilha  e quase não se encontra mais pela cidade. Quando éramos crianças, enlouquecíamos com aqueles sucos coloridos e tão gelados que faziam cócegas na garganta. O de groselha, vermelho-sangue, sempre foi meu preferido.

Não resisti. A dieta que me perdoe, mas tomei cada gole do copo aí de cima saboreando memórias perdidas no tempo. Tempo que para ler tinha que ir na Biblioteca do Sesc, pois nem mesmo as escolas tinham acervo de leitura e as bibliotecas em nada se equiparam aos lindos espaços que temos hoje aqui na Capital: a Biblioteca Pública, que encanta a todos que a visitam,  a Biblioteca da Floresta, tão contemporânea, as casas de leitura.

Nada disso caiu do céu, é claro. Foi e é fruto de um esforço coletivo de um projeto político que pensa o Acre para melhor e que sabe que muito ainda se tem para construir. Lembrei de cada livro do Estanislaw Ponte Preta que eu li quando criança e do seu Artur ali da Livraria Cultural, que me recebia como uma princesa, cada vez que mamãe me levava lá. Um livreiro sempre sabe reconhecer leitores...e o Manoel, o nosso Paim? Na faculdade, não sei se ele sabe quantos estudantes ajudou a formar, com seus financiamentos muito próprios, em parcelas a perder de vista, anotadas no caderno...Se não fosse a confiança do Paim nos futuros advogados, economistas, enfermeiros e pedagogos dessa cidade, para citar apenas alguns, muitos de nós estaríamos ainda pelo meio do caminho.

Mas a Bienal também nos trouxe a possibilidade de participar e ter acesso à produção literária, artística e musical dos vizinhos e irmãos da Bolívia e do Peru. O encantamento foi mútuo: foram conversas, oficinas, lançamento de livros, diálogos em que se reconhecia o orgulho de fazer parte de uma América Latina que aos poucos se descobre e abre os braços para as culturas irmãs, que estão aqui ao lado.

E ainda teve, como se fosse pouco, os shows imperdíveis da Clara, da Vanessa e da Isabel. Do Tom Zé, esbanjando vitalidade. Da dupla boliviana - Duo Negro y Blanco, maravilhosos. O Chico Chagas, que trouxe ao palco inúmeros artistas da terra e revelou para nós o Andrelino Caetano, todo bonito no seu terno marron. E o Cleuber, o Dircinei, enfim, tanta gente boa que dá orgulho no peito. Mas, depois de ouvir a maravilhosa Susana Baca, cantora e compositora peruana duas vezes ganhadora do Latin Grammy Award, atual presidente da Comissão de Cultura da OEA e uma simpatia total, dá pra sentir que "... tudo vale a pena, se a alma não é pequena..."

Susana, que ao chegar e visitar o Espaço da Bienal, próxima ao rio e ao Mercado, suspirou por um mingau de tapioca. Mais tarde, mandei buscar o mingau, que veio quentinho, com um tantinho de canela e foi devidamente degustado por ela. No dizer do marido Ricardo, Susana tem "...una boca saborosa..."
Ouça algumas das belas músicas cantadas por ela e também pelo duo Negro y Blanco.


Raspadilha

Ingredientes

Gelo picado/raspado a gosto (pode ser batido no liquidificador, caso não tenha máquina)
xarope de frutas, a gosto

Coloque o gelo picado em um copo alto, despeje o xarope a gosto e aproveite!

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Duo Negro y Blanco

http://www.youtube.com/watch?v=apyT67mGiRA 
http://www.youtube.com/watch?v=iAhLSicbrv8&feature=related
      

Susana Baca

http://www.youtube.com/watch?v=S9L8mEJXDn4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=j699ftZP18Q

"...tudo vale a pena se a alma não é pequena..." in Mensagem, Fernando Pessoa


Para saber mais:

Consulte o sítio
 www.ac.gov.br








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