domingo, 11 de março de 2012

PARA NÃO CORRER

Pão com chocolate meio amargo derretido...
  
     

Estou nesse momento de frente para a janela da minha cozinha, onde um pé de cupuaçu ainda bebê convive pacificamente com um pequeno cajueiro, os dois à sombra de uma caramboleira. Daqui a alguns anos, não sei quais frutos estarão sendo colhidos, mas as árvores muitas vezes nos dão uma lição de tolerância. Dividem os passarinhos, sombreiam umas às outras e, se não tiver jeito, que vença a melhor. Sementes ruins não vingam, excessos são desnecessários. Simples assim.

Nós é que complicamos muito. Vivemos correndo como se o mundo fosse acabar agora. Sentamos no restaurante com os aparelhos ligados e nossas conversas são frases  rápidas entre ligações telefônicas intermináveis.  Se o passado previsse onde o futuro nos deixou, veria alguns zumbis desatenciosos com o momento presente, observando a vida acontecer pela internet.

Não sou absolutamente contra a tecnologia, é claro. Afinal, publico estas linhas no universo on line e tenho muito prazer com isto. O que me incomoda é a sensação de urgência em que me sinto mergulhada e a falta de força para resistir,  por isso escrevo.  Não dizem que as palavras tem poder? Pois então! Quero minha xícara de chá rodeada de biscoitos caseiros, quero bolo esfriando na janela. Quero pão caseiro inundando a casa de cheiros. Quero... desacelerar!

Temos um grupo chamado Sociedade Philosophia, criado pelo meu maridinho, onde ele gentilmente nos brinda com aulas lúdicas, músicas, poesia, enfim, filosofia para ser feliz. De quebra, nos ajuda a pensar o mundo, por que não? Bom, dentro desse trabalho, foram realizadas algumas imersões dentro do Seringal Cachoeira¹, em Xapuri, onde fomos para a floresta, sentimos o modo de vida dos seringueiros, voltamos às nossas origens. Na pousada rústica tocada pela comunidade local não tem celular, a televisão raramente é ligada e o que se ouve bastante é o som da mata, com a ajuda dos pássaros, macacos e outros bichinhos maiores.

Na primeira imersão, o grupo, formado por mais ou menos cinquenta pessoas, tinha estudantes, funcionários públicos, advogados, enfermeiro, fotógrafo, todos carregando a cidade na alma e com a cidade, a correria. Na primeira palestra, realizada por Francisco Pianko, à época Assessor para Assuntos Indígenas do Governo estadual, ele mesmo da tribo  Ashaninka, começamos a perceber onde estávamos: com a fala mansa, ele ia discorrendo sobre a cultura de seu povo numa velocidade de conta-gotas e as pessoas iam se remexendo nas cadeiras. Estavam  desacostumadas de ouvir alguém falar lentamente, com tranquilidade.  Aos poucos, aquela conversa foi nos conectando com o mundo, com a floresta ali do lado. Começamos a entrar em outro ritmo, devagar, devagar, devagar. Foi uma das melhores experiências da minha vida.

É pena que não dure muito, mas precisamos fazer um esforço. Conversar de verdade, sem pressa. Olhar nos olhos, ouvir as pessoas, não atropelar. Ter calma. Ter paciência. Deixar fluir. Celular desligado, de vez em quando. Visitar a mãe e o pai. Ouvir piadas, esticar as pernas. Andar, sem necessariamente precisar chegar a algum lugar. Respirar. Quero ver “O Artista” ², o cinema em preto e branco. Mas também quero rever “Meia-noite em Paris”², com aquelas luzes maravilhosas. De quebra, fazer uma roda de conversa. Amigos, risadas, petiscos para confortar.  Nossos “... ombros suportam o mundo”³, mas é possível fazer uma trégua para ser feliz.
          
Pãozinho para comer sem pressa...
Mona de Pascua  ( Rosca de Páscoa - extraída e adaptada da Revista Gula n. 185 – mar/2008)
Ingredientes:
Para a esponja:
3 colheres de sopa de fermento para pão fresco ou seco
100 g de açúcar (mais ou menos ½ xícara de chá)
½ xícara de chá de água morna
3 colheres de sopa de farinha de trigo

Para a rosca:

6 xícaras de chá de farinha de trigo
1 colher de sopa de sal
6 ovos crus em temperatura ambiente
½ xícara de chá de óleo de boa qualidade
Água morna
1 colher de chá de água de flor de laranjeira (opcional)
1 gema passada na peneira e misturada com 01 colher de sopa de óleo para pincelar a massa antes de assar
Geléia, chocolate meio amargo em tablete, castanhas ou amêndoas para rechear a massa
Açúcar de confeiteiro, se desejar

Modo de fazer:

Para a esponja:

Dissolva o fermento com o açúcar em uma tigela, acrescente a água morna e a farinha de trigo. Misture e deixe descansar por 15 minutos ou até formar bolhas. Reserve.

Para a rosca:

Peneire a farinha de trigo, acrescente o sal, os ovos, o óleo e a água de flor de laranjeira, se usar. Junte a esta massa a mistura fermentada (esponja) e acrescente um pouquinho de água morna, caso seja necessário (se a massa parecer muito firme). Sove bastante a massa numa superfície enfarinhada e após, faça uma bola e a coloque para crescer num lugar sem correntes de ar (um forno desligado, por exemplo).
Após a fermentação (Pelo menos 1h depois ou quando a massa estiver bem crescida e leve), despeje-a numa superfície enfarinhada e abra-a com o rolo, de preferência. Recheie a gosto, com geléia, pedaços de chocolate, nozes, castanhas ou até mesmo queijo, creme de frango ou palmito, enfim, o que desejar. Enrole como rocambole, pincele com a gema dissolvida no óleo e coloque para fermentar novamente em assadeira untada e enfarinhada.  Quando estiver bem crescida, coloque para assar em forno previamente aquecido,  até dourar.
Como cada forno tem tempos diferentes, fique atenta (o): caso tenha dúvidas, abra o forno e dê uma pequena batida no centro do pão, com o punho fechado. Deve produzir um som oco.
Caso não coloque recheio, sirva com manteiga ou requeijão, enfim, o céu é o limite. Aproveite, é uma delícia!


 

Citações:    
¹Pousada Ecológica do Seringal Cachoeira – Xapuri, Acre.
²  http://cinemacomrapadura.com.br  - site de críticas e informações sobre cinema
³ Os Ombros Suportam o Mundo, de Carlos Drummond de Andrade.



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